Manual para se tornar catedrático na Universidade da Madeira (versão Lusíadas)


O sonho de ser catedrático! Esse patamar quase celestial da vida académica, onde se vive entre publicações que ninguém lê e conferências onde todos fingem prestar atenção. Mas como atingir tal glória? Publicar artigos inovadores? Criar teorias brilhantes? Nah, muito mainstream. Se quer mesmo destacar-se, faça como os génios: organize um projeto onde 400 membros da sua instituição académica copiem Os Lusíadas à mão. Sim, à mão. Porque, como todos sabemos, nada grita “académico de renome” como transformar a sua instituição numa gráfica do século XVI.

Mas atenção! Não se trata de refletir sobre a obra de Camões ou discutir a sua relevância. Nada disso. O segredo é a cópia mecânica, sem interrupções e, de preferência, com cãibras no pulso. Afinal, qual é a melhor forma de celebrar um marco da literatura portuguesa do que transformá-lo numa espécie de castigo medieval? Camões ficaria orgulhoso, certamente. E para garantir um toque especial, faça tudo de forma anónima e fique com os créditos. Nada como despersonalizar completamente os envolvidos para garantir que o espírito de comunidade seja... inexistente.

Não se esqueça do disfarce moralizador. É crucial vender esta ideia como uma forma de “recordar e celebrar uma figura ímpar da cultura portuguesa”. Porque quem poderia criticar um projeto tão nobre? É o argumento perfeito: a pessoa que questionar vai parecer ignorante e antipatriota. Quer dizer, qual é o problema de obrigar centenas de académicos e estudantes a sentarem-se em silêncio, a transpirar sobre caligrafia, como se fossem monges copistas de um convento no Renascimento? É pela cultura, meus caros!

E o melhor? No final, pode até apresentar a “obra” como um feito académico revolucionário. Imagine a manchete: “Instituição recria Os Lusíadas à mão em gesto de homenagem”. Nunca ninguém vai questionar o propósito disto tudo. É brilhante. E se alguém perguntar como isso contribui para a sua cátedra, é simples: basta dizer que foi um exercício de “reconexão com o texto”. Soa profundo, ninguém percebe, e segue o baile.

Por isso, futuros catedráticos, tomem nota: a chave para o sucesso não é a inovação, o pensamento crítico ou a liderança académica. Não. É forçar toda a gente à sua volta a embarcar numa atividade tão sem sentido que todos acabarão por acreditar que é genial. E quem sabe? Se der certo, para o próximo projeto, podem copiar o Dicionário da Língua Portuguesa. Porque nada diz “excelência académica” como transformar a cultura em caligrafia compulsória. Acreditem isto foi feito na Universidade da Madeira, por um professor universitário candidato a catedrático. Penso que julga que estamos em Africa e precisa de colonizar os madeirenses...

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