Resposta ao texto: O Silêncio dos Inocentes
H á silêncios que, pela sua densidade, se tornam cúmplices. Mas há palavras que, quando mal colocadas, denunciam com estrondo a pequenez moral de quem as profere. À luz do mais recente surto literário publicado no Madeira Opina, assinado por um aspirante a cronista com pretensões messiânicas, cabe-me esclarecer que o discurso inflamado nem sempre é sinónimo de razão — muitas vezes é apenas o som do vazio ressoando na caverna do ego.
O autor do texto em causa, como se tivesse sido ungido pelo espírito da moralidade pública, tenta posicionar-se como arauto da ética e da consciência social. No entanto, não deixa de ser irónico — quase cómico, dir-se-ia — que tal moralismo empertigado emane de alguém que, como é do conhecimento público, esteve envolvido num caso gravíssimo de homicídio. Condenado a três anos de pena suspensa, escapou à prisão, mas não ao julgamento da memória coletiva. Essa, infelizmente para ele, tem menos lapsos do que a sua narrativa conveniente.
E por mais financiamento cultural que tenha recebido desde então — com projectos de discutível valor artístico e estética errática — nunca teve a hombridade de saldar a indemnização imposta pelo Ministério Público à família da vítima. O dinheiro parece chegar para as luzes, os figurinos e os delírios cénicos… mas não para o que realmente importa: o restabelecimento mínimo da justiça.
Dir-se-ia que, talvez por vergonha ou estratégia, evita tratar diretamente com o Estado em nome próprio quando se trata de apoios públicos. Prefere, ao invés, recorrer sistematicamente a intermediários — testa-de-ferro, no vocabulário corrente — para que os subsídios culturais não possam ser penhorados pelas numerosas dívidas que se vão acumulando, como se a criação artística pudesse servir de escudo à responsabilidade cívica. Há um nome para isso: cobardia administrativa com verniz cultural.
O que dizer da sua presença constante nos corredores do meio artístico local? Onde passa, deixa um rasto de maledicência, intriga e um tipo de veneno social que parece beber de manhã, ao pequeno-almoço. São já incontáveis os episódios de instabilidade que protagoniza nos bastidores dos hotéis, salas de espectáculo e produções em que participa — despedimentos sucessivos, conflitos desnecessários e um padrão recorrente de desrespeito e deslealdade profissional. E depois opta por vir falar de cidadania e de valores…
Se tanto se considera paladino da virtude, talvez devesse explicar por que razão nunca permanece muito tempo em lado nenhum. E por que motivo, com uma frequência quase litúrgica, é afastado de equipas, projectos e entidades. A resposta, infelizmente, está nos factos, não nos artigos de opinião.
Sempre foi assim e sempre será meus caros, tanto na música como no desporto.
No palco, tenta compensar o vazio artístico com roupas chamativas, acessórios de gosto duvidoso e uma postura performativa que mais parece uma caricatura, do que um gesto de expressão. Mas, como bem sabemos, não são as roupinhas “trendy” nem as bijuterias baratas que conferem qualidade ou respeito a um artista. A elegância está na integridade — e essa não se compra em lojas de fast fashion cultural.
E ainda assim, insiste em mascarar a falta de inovação e relevância com conceitos reciclados, repetindo o mesmo repertório de sempre, apenas com novos nomes, novos panfletos e novas palavras ocas. A fórmula é gasta, previsível e sem risco — porque criar verdadeiramente exige coragem, e coragem é coisa que não habita em espíritos pequenos.
A comunidade musical regional, aliás, está cansada — para não dizer saturada — de assistir à constante denegrição do meio por parte deste eterno pé-rapado emocional, que se refugia na crítica gratuita como forma de validar a própria irrelevância. E como se não bastasse o ruído constante, agora também se apresenta como escritor, poeta e cantor "versátil", chegando mesmo a aventurar-se por géneros como o jazz e a bossa nova. Sugere-se então que, se o tempo lhe sobrar entre um texto difamatório e outro, se dedique à escrita de um livro de poesia — algo como "Serenatas da Agonia" talvez? Ou, caso queira mesmo actualizar o seu repertório, poderia sempre incluir no alinhamento alguns clássicos standards que parecem ter sido escritos a pensar nos seus projectozinhos: Aqui vão de forma gratuita, as minhas sugestões.
Versão Elis Regina - O Bêbado e a Equilibrista
O nosso herói trágico poderia muito bem ser uma fusão mal resolvida entre o bêbado e “a” equilibrista: cambaleante nas ideias, desequilibrado nas emoções, e sempre a dar espetáculo... só que pelas piores razões.
· A esperança de “um Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil” pode ser trocada pela esperança da comunidade artística de que um dia ele se cale, ou, no mínimo, aprenda a viver com decência e autocrítica.
Versão Elis Regina - Atrás da Porta
Pode ser muito bem “interpretado” por quem nunca conseguiu entrar pela porta da frente da cultura regional.
· Retrata bem o que é viver à sombra de outros artistas e músicos: alguém que não cria, apenas reage — como se estivesse "atrás da porta", sempre à espreita, à espera que o outro faça para depois criticar.
· O tom dramático da música encaixa no estilo do próprio sujeito: ou seja, é a banda sonora perfeita para os seus surtos de pseudo-indignação e os monólogos interiores de vingança artística.
Frank Sinatra – "That’s Life"
Letra que fala sobre altos e baixos, sobre cair e levantar — mas no caso do nosso protagonista, parece que só ficou no chão a arrastar a amargura. A linha "I've been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and a king..." é quase um retrato involuntário. Daria uma escolha perfeita para encerramento do line up: com chapéu, bastão e aquele olhar vazio.
Por fim, há um aspecto essencial a destacar: enquanto tantos artistas se desdobram em esforço, estudo, sacrifício e inovação para merecer, honestamente, os apoios culturais que recebem, há quem continue a fazer do subsídio uma bengala vitalícia — não como impulso à criação, mas como muleta para a sobrevivência de uma carreira que não se sustenta por mérito próprio.
E, como cereja neste bolo de contradições, há ainda o bizarro fenómeno da obsessão pública e continuada. Não deixa de ser curioso — e revelador — que alguém que diz desprezar e atacar com tanta veemência um colega de profissão, mantenha ainda hoje, na sua página pessoal do YouTube, vídeos do artista em questão. Vídeos esses que, em tempos idos, eram acompanhados de elogios rasgados nas redes sociais, numa demonstração clara de admiração. O que mudou então? Terá sido a frustração? A inveja? Ou apenas mais um episódio desta relação de amor/ódio mal resolvida que tanto alimenta os que vivem da polémica, mas não da criação?
Aliás, consta que prepara agora um “novo” projecto de tom confessional — o que me leva a perguntar, com uma ponta de esperança e outra de ironia britânica: será que é desta que se confessa... mas a sério? Porque, sejamos francos, um palco é lugar de revelação artística — mas há casos em que seria mais proveitoso transformá-lo em confessionário. De preferência com um microfone desligado.
A verdade é simples: há quem suba ao palco para elevar consciências. E há quem o faça para alimentar egos feridos. A diferença nota-se no aplauso — um é genuíno, o outro é de cortesia.
Fica, pois, o apelo final: que cada um olhe para o seu próprio espelho antes de tentar embaçar o dos outros. E que quem percorre os passos da amargura, com tanto afinco, encontre finalmente um desvio — se não para a redenção, ao menos para o silêncio.
Afinal, como dizia um velho mestre:
os que gritam mais alto, são geralmente os que têm menos a dizer.
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