C onfesso que não sou pessoa de acompanhar a política local com grande atenção. Entre o trabalho, a casa e o filho, sobra pouco tempo e, muitas vezes, pouca paciência para discursos que raramente se traduzem em ação. Mas há uns anos, fui com a turma do meu filho a uma atividade promovida pela Câmara Municipal do Funchal sobre educação ambiental. Uma ação simples, mas bem organizada, com materiais didáticos, entusiasmo genuíno e, sobretudo, presença. Lembro-me de uma jovem vereadora que falava com as crianças com o mesmo respeito com que falava com os adultos. Chamava-se Nádia Coelho. Foi o primeiro contacto que tive com o seu trabalho e, desde então, confesso que estive mais atenta.
Percebi que a Nádia não era só um rosto jovem e simpático. Era também alguém profundamente competente e tecnicamente preparada. Licenciada em Biologia, com experiência na Direção Regional do Ambiente e projetos europeus exigentes como o LIFE DUNAS, sempre demonstrou domínio dos temas que tutelava: ambiente, resíduos, águas, causa animal, inovação. Mas mais do que isso, demonstrava dedicação e seriedade. Era visível que havia ali mais do que um cargo político – havia compromisso.
Nos últimos anos, sob a sua alçada, vimos investimentos concretos e estruturantes: o reforço da limpeza urbana, a melhoria das condições do canil do Vasco Gil, o lançamento do primeiro Plano de Ação Climática Municipal da Madeira. Tudo isto sem barulho, sem protagonismos vazios. Trabalho feito com rigor, com empatia e, arrisco dizer, com amor à causa pública. Nádia Coelho foi, para mim e para muitos, uma lufada de ar fresco na política. Uma presença firme, mas acolhedora. Alguém que inspirava confiança, sem precisar de slogans ou palco.
Por isso, custa aceitar o anúncio da sua saída da vida política. A justificação dada – razões pessoais – merece todo o respeito. Mas não posso deixar de interrogar-me: como é que alguém com provas dadas, com reconhecimento dentro e fora do município, com um perfil tão raro na política atual, decide afastar-se? Será esta decisão verdadeiramente voluntária ou há pressões que desconhecemos? Não será de estranhar que este afastamento surja pouco tempo depois da polémica saída de Pedro Calado, envolto num processo judicial por corrupção, e da saída de Cristina Pedra? Há ou não há uma linha que liga estes episódios?
Vejo tantos políticos medíocres a perpetuarem-se em cargos, a trocarem favores e a arrastarem os pés em funções públicas, e depois vejo alguém como a Nádia Coelho, com provas dadas, abandonar o barco. Será por cansaço? Por desilusão? Ou por falta de espaço entre as tais "velhas raposas" que não dão lugar a ninguém? Se há algo que esta cidade precisa, é de pessoas com a postura e o perfil da Nádia. Jovens, competentes, discretas e com visão. Pessoas que não têm medo de sujar as mãos e que não usam o cargo como trampolim pessoal.
Como cidadã, só posso agradecer o trabalho sério e transformador que deixou no Funchal. Como mãe, fico triste por o meu filho perder um exemplo de política que vale a pena mostrar. Mas como madeirense, espero sinceramente que este seja apenas um ponto de transição e não um ponto final. Que a Nádia regresse – quem sabe como secretária regional, ou noutra função em que possa continuar a servir a nossa terra. Porque precisamos de mais como ela. E menos como tantos outros.
Maria José
1 Comentários
O texto fala do palco, resta saber como são as coisas nos bastidores, será que são assim tão belos como fala?? Não, não são.
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