D epois da denúncia pública "Flores, favores e fantoches" (link) sobre o escandaloso concerto de 19 de maio, na Placa Central do Funchal, onde o Presidente do Governo, Miguel Albuquerque, se sentou ao piano ao lado de músicos seus próximos, entre os quais a professora de canto do seu filho e o empresário de som que fornece os serviços pagos com dinheiros públicos, surge agora mais um episódio digno de um filme político à moda antiga: o cartaz oficial da Festa da Flor foi rasurado.
Sim, leu bem. O concerto em questão é o único que aparece tapado com uma faixa branca. Por baixo, ainda se adivinha o nome “Gold Label”, dando a entender que ou foram substituídos ou eliminados da programação. Mas o mais grave não é isso, é o facto de, num cartaz público, afixado em espaço público, a atuação do próprio Presidente e seus associados ter sido ocultada.
Que se esconde aqui? Um erro logístico? Um lapso de última hora? Ou será que, com a exposição do compadrio e dos conflitos de interesse, o melhor foi “apagar” o concerto como quem varre o lixo para debaixo do tapete? Não se sabe. Mas a imagem do cartaz rasurado já fala por si. E fala alto.
Este episódio não é apenas embaraçoso, é revelador. Quando até um simples cartaz precisa ser censurado à pressa, estamos perante um regime nervoso, instável e incapaz de lidar com a verdade. A gestão cultural da Região transformou-se numa máquina de autopromoção, onde o Presidente faz de maestro, empresário, artista e curador, tudo ao mesmo tempo, e sempre em benefício dos mesmos.
E agora, para não deixar rasto, preferem apagar do que assumir. Tal como no tempo em que se rasuravam relatórios, agora rasuram-se eventos.
Se a Festa da Flor é para todos, porque se apaga aquilo que envolve os de sempre?
Porque onde há medo, há culpa. E onde há silêncio, há muito por esconder.
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