D epois do resultado desastroso do Partido Socialista, um dos piores da sua história, que à partida passará para terceira força política, perdendo o lugar histórico de partido da oposição, apressaram-se algumas vozes do PS-Madeira a exigir a demissão de Paulo Cafôfo, as quais são perfeitamente legítimas do ponto de vista do pluralismo democrático, que se quer ativo num partido como o PS.
No entanto, há uma questão que deveria ecoar também em qualquer uma destas vozes e em qualquer militante crítico (pois a crítica não pode servir só para um dos lados): por acaso algum dos putativos candidatos com a mínima possibilidade de se constituírem como alternativa, que se resumem, evidentemente, a duas pessoas, Carlos Pereira e Miguel Silva Gouveia, teriam nas eleições regionais ou nas eleições legislativas alguma hipótese de ter um melhor resultado do que aquele que o PS-Madeira teve? Mas irei mais longe, que resultado teria Miguel Silva Gouveia se concorresse à Câmara Municipal do Funchal? Ou que resultado teria Carlos Pereira? E mais, o que fizeram para ajudar o partido em todas as últimas eleições?
Para isso convém relembrar factos e resultados sem egos à mistura. Recordemos que Carlos Pereira concorreu como cabeça-de-lista à Câmara Municipal do Funchal, perdeu. Carlos Pereira concorreu como cabeça-de-lista à liderança do Partido Socialista Madeira, perdeu. Miguel Silva Gouveia concorreu como cabeça-de-lista à Câmara do Funchal, perdeu. Paulo Cafôfo concorreu como cabeça-de-lista à Câmara do Funchal, ganhou com o melhor resultado de sempre. Cafôfo concorreu como cabeça-de-lista à Assembleia Legislativa pela primeira vez, teve o melhor resultado de sempre e esteve a um passo de conseguir ter uma maioria. Sem dúvida que os resultados de 2025 e 2024 são negativos, mas sublinhe-se, são sobretudo negativos precisamente tendo como referência o resultado histórico de Paulo Cafôfo em 2019.
Segunda questão para reflexão, que resultado teria Miguel Silva Gouveia ou mesmo Carlos Pereira se fossem cabeças-de-lista nas próximas autárquicas à Câmara do Funchal? O histórico de ambos diria que de todas as vezes que se apresentaram às urnas foram perdedores, lembre-se que a história diz que já perderam num contexto em que o JPP era uma miragem. Pois bem, se perderam num contexto muitíssimo mais favorável, o segundo partindo inclusive da posição de Presidente da autarquia, que resultados teriam hoje? A verdade é que, tanto um como outro, jamais se arriscariam conhecer o desfecho desta história, pelo simples facto de que, a julgar pelos resultados anteriores, com a dispersão de votos para o JPP, sabem que perderiam ou até teriam um resultado igual ou pior ao resultado de Paulo Cafôfo no concelho do Funchal nas últimas eleições regionais.
Nesse cenário certamente hipotético, já não seria possível destilar ódio à liderança de Cafôfo ou ao grupo parlamentar, porque a confrontação com a realidade seria um banho de humildade, seriam condenados a perdedores eternos, o outro um lutador com muitas vitórias e algumas derrotas. Por outras palavras, se concorressem nas autárquicas o futuro político destas duas figuras estaria arruinado e perderiam qualquer possibilidade de se apresentarem como alternativas. Com isto não quero dizer, de todo, que a atual liderança é extraordinárias e que se está num bom caminho, mas confesso que apesar de já ter sido admirador de Miguel Silva, nos dias de hoje já não posso dizer o mesmo. Não acredito em messias mas há um facto inegável na liderança de Cafôfo que me faz simpatizar por ele, quando uns se escondem porque os tempos são difíceis, Cafôfo não tem medo. Quando uns se afastam por calculismo político, ele dá a cara. Não sei se um dia chegará a Presidente do Governo, mas se não é este o tipo de políticos que queremos à frente do PS, então quem é?
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