IHM: O machismo ainda veste fato e gravata


H á coisas que nos tiram literalmente o sono… Escrevo estas palavras depois de uma noite mal dormida, com o estômago às voltas e o coração partido. No dia 27 de Junho, durante uma reunião com os trabalhadores da Investimentos Habitacionais da Madeira, o presidente disse em voz alta para todos ouvirem "Isto é como as mulheres, elas dizem para fazer de uma forma, nós concordamos e dizemos que sim, mas fazemos da forma que queremos."

Isto não foi só uma piada infeliz. É um reflexo claro de como alguns ainda veem as mulheres. Como obstáculos a contornar e vozes a ignorar, ou como uma presença decorativa a quem se vai acenando com a cabeça sem dar verdadeira atenção.

Sou mulher, sou mãe e tenho muito orgulho na educação que dei aos meus filhos. Uma educação com valores, respeito e exigência. Cresceram a ver uma mãe presente, trabalhadora, firme quando era preciso e carinhosa quando era necessário. Eu nunca aceitei ser só “ouvida” para depois ser ignorada.

É por isso que esta frase doeu.

Doeu porque desvaloriza tudo aquilo que tantas de nós fazemos todos os dias. Porque mostra que para alguns a palavra da mulher é algo que se pode fingir que se ouve mas que não se deve levar a sério. E quando isso vem de quem lidera, de quem ocupa um cargo público, o problema é ainda maior.

Há quem acha que estamos a exagerar. Que são “coisas tontas que se dizem”. Pois olhem que já chega dessas “coisas tontas” e já chega de dirigentes que acham que têm graça à custa das mulheres.

Já chega de normalizar o desrespeito e o gozo disfarçado de piada.

Isto não é só um desabafo, estou gritando por dentro. É um basta que já vem tarde. Porque enquanto houver quem fale assim impunemente, enquanto houver quem ache que pode comparar as mulheres a algo que se manipula com um sorriso, então ainda há muito por fazer.

E nesta região que tanto amo, onde tantas mulheres lutam todos os dias com tanta dignidade e coragem, não podemos permitir que estas palavras passem como se fossem normais. Porque não são! E porque nós não somos menos nem nunca fomos.

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