P arabéns à autora do texto “IHM: o machismo veste fato e gravata” (link). É raro ver tanta verdade escrita com tanta coragem. Num mar de silêncios e sorrisos diplomáticos, eis que surge uma voz que diz, com todas as letras e sem pedir licença, que sim, ainda vivemos numa sociedade profundamente machista. Aqui mesmo, na nossa ilha, no coração do arquipélago .Lê-se o artigo “IHM: o machismo veste fato e gravata” e só apetece dizer: aleluia, alguém teve coragem de dizer o óbvio. Porque sim, em pleno 2025, a misoginia continua viva, elegante e bem passada a ferro. Já não se apresenta aos gritos nem de cinto na mão, agora aparece com nó de gravata Windsor e aquele sorriso cínico que trata qualquer mulher competente como se fosse uma estagiária com sorte.
Na nossa querida ilha da Madeira o machismo veste-se com classe. Está em reuniões, em cargos de chefia, em conselhos de administração... e até em discursos sobre igualdade. Dizem “claro que sim, temos de valorizar o papel da mulher”, enquanto mandam a engenheira calar-se para "não se armar em esperta". Sim, estamos nesse nível.
Mas vamos lá ao que importa: se o machismo veste fato, a inteligência feminina calça saltos (ou ténis, ou chinelos, consoante lhe apetecer) e continua a deixar muitos homens no rés-do-chão da competência.
Exemplos? Temos de sobra. Internacionalmente, temos Ângela Merkel, que governou a Alemanha com uma frieza estratégica que deixaria qualquer banqueiro suíço nervoso. Nunca precisou de levantar a voz, bastava levantar uma sobrancelha. Ou Michelle Obama, que com classe, força e cérebro, reinventou o papel de Primeira-Dama sem nunca perder a compostura (nem a capacidade de destruir o racismo e o machismo com uma frase só). E claro, Maria de Belém Roseira, que foi pioneira na defesa dos direitos das mulheres num Parlamento.
Na IHM o machismo não grita, não dá murros na mesa, nem usa bigode retorcido de vilão de telenovela. Não, é mais sofisticado. Usa fato e gravata. Finge polidez. Trata as mulheres por "meninas", mesmo que sejam engenheiras, juristas, gestoras ou diretoras com mais cérebro num dedo do que muitos dos engravatados terão numa década. O machismo moderno é assim: não precisa levantar a voz, porque já se sente dono do espaço.
É quase comovente, na verdade. Porque, no fundo, o machismo não é mais do que uma manifestação desesperada da insegurança masculina. Homens que se sentem ameaçados por mulheres inteligentes, eloquentes, organizadas e, pasmem-se, competentes. Homens que vivem em pânico com a ideia de terem de competir num plano de igualdade. Pobrezinhos. Deve ser cansativo viver assim, permanentemente a medir o ego com fita métrica imaginária.
Estas mulheres, e tantas outras sem nome nos jornais, provam todos os dias, que a inteligência feminina é igual à dos homens. Só que durante séculos foi abafada por uma cultura que ensinou os homens a mandar e as mulheres a sorrir. E quando uma mulher deixa de sorrir e começa a falar alto, clara e convictamente? Ui. Aí é que os fatos e gravatas se começam a contorcer.
Senhores do tique machista e da condescendência paternalista, atenção: o tempo em que as mulheres “sabiam o seu lugar” acabou. E não há gravata de seda que disfarce a mediocridade de quem se sente ameaçado por uma mulher com ideias.
No fim, a história não será escrita por quem usava gravata, mas por quem ousou desafiar o nó.
O problema não é a falta de mulheres competentes. É o excesso de homens inseguros. O típico “homem do poder” que entra numa sala e vê uma mulher inteligente... e imediatamente saca do seu escudo de condescendência. Porque nada os apavora mais do que uma mulher que sabe mais, fala melhor e não precisa da aprovação deles para existir.
Mas a verdade é esta: o mundo está a mudar, e o machismo com gravata está a ficar fora de moda. As mulheres já não pedem licença para entrar, e quando entram, fazem-no com argumentos, resultados e um sentido de ética que deixa muitos engravatados a suar dentro dos seus próprios fatos.
Enquanto eles jogam ao “quem manda aqui”, elas já estão a construir o próximo andar.
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