O merceeiro dos contratos

A gora é moda ser merceeiro mas não vende batata nem cebola. Vende papel. Papel passado com carimbo do governo. E bem pago. Vinte e cinco mil euros só para fazer contratos, para dar um exemplo. Vida boa. Nem carrega sacos nem puxa caixas. É só sentar e assinar.

Triste do Zé povinho. Os que acordam cedo. Que levantam a grade. Que contam os trocos e fazem contas com a máquina velha toda riscada. Esses sim é que sabem o que custa o dinheiro.

Tira do sério ver um merceeiro a falar de merceeiros, é de dar volta ao estômago. E não falo de partidos. Nem verdes nem rosas nem amarelos nem azuis. Para mim isso vale tudo o mesmo que um litro.

Mas para quem vive do sistema, aí já custa. quando alguém começa a dizer a verdade como ela é. E alguém tem de pôr a verdade a nu.

Esse vive bem. Não precisa de supermercado nem de mais barato. Qual LIDL? Não conta moedinhas. Não sabe o que é guardar as sobras porque não há mais nada. Não sabe o que é chegar ao fim do mês e faltar. O que chove lá em casa são contratos. O que chove na casa do povo são contas de luz, de água e do supermercado.

Parece nada a ver com o sistema. Mas vive dele. Vive bem dele. Avenças para cá, tachinhos para lá. E ainda quer dar lições aos outros.

E ainda se mete a falar da ARM. Aquilo sim é poleiro bom. Cheio de nomeados. De selo Desde o Início. De assessores que nem sabem onde fica o Porto Novo. Muito menos o armazém. Mas recebem. Esses são merceeiros como ele. Aquilo é só para os da lista certa.

Fica aqui o recado. Na próxima diarreia que diga tudo, as avenças. Com nome. Com valor. Ponha a limpo quanto ganha do suor dos clientes que conquistou com o seu suor e quanto entra com as fitas do dinheiro dos impostos dos pata rapadas que querem o LIDL ou o Auchan. Que meta tudo na balança.

É feio. O povo anda a contar os euros no carrinho de compras.

Merceeiro é quem está atrás do balcão. De avental. A vender fiambre e atum a granel. Não é quem anda de gravata com avença no bolso.

Um bom vilão merceeiro faz conta das promessas. Mas devia era dar conta do merceeiro que é ele próprio. Sejam promessas boas, más ou de vilão.

Parabéns ao Madeira Opina. Ainda há quem permita as verdades quando mexe com os amigos dos contratos.