E u percebo. Eleição após eleição, a sensação é que fica tudo igual. Que são sempre os mesmos. Problemas judiciais, polémicas, ganância, garotices, mentiras, ilegalidades, soberba, mulherada e “caminhos-de-ferro”. Mas mesmo assim, fica tudo igual. O polvo já é grande e tem de continuar a crescer. A sua sobrevivência depende disso. A cunha, o favor, a promessa, o “dar o jeitinho” ajuda e de que maneira: e tudo é cobrado no tempo devido.
Por isso, percebo: para quê dar-me ao trabalho de votar? Eu respondo: é preciso votar porque é precisamente inação e apatia que o poder político espera de vocês. Isto joga a favor de quem já lá está. Eles esperam que vocês não se deem ao trabalho de ir votar. Que se estejam nas tintas. Que não chateiem, não sejam inconvenientes nem atrapalhem. Que deixem tudo igual, como até aqui.
E não votar é isso mesmo: é deixar tudo igual. Porquê? Porque garanto-vos que a prata da casa (tachistas, lambe-botas, beneficiários de cunhas, interesseiros, gananciosos, e todas as suas amantes) vão todos sem falta votar. A vida deles depende disso.
Acompanho a situação do jovem que recentemente perdeu as pernas num acidente de mota. É comovente ver a reação ao seu infortúnio. Como se tem agarrado às coisas boas da vida e ido buscar forças na sociedade, através das redes sociais. Depois de passar por uma situação daquelas, com consequências vitalícias, mostra interesse e preocupação em ajudar os outros. Parece que quer fazer disto a sua missão de vida: retribuir o que recebeu.
Dá que pensar. Nas horas de fraqueza, aflição e aperto percebemos que não somos nada sozinhos. Precisamos sempre uns dos outros, quer gostemos quer não. Sejamos novos ou velhos, ricos ou pobres, instruídos ou brutos, precisamos sempre uns dos outros.
Na política não pode prevalecer a corrupção, o compadrio e o enriquecimento pessoal à custa do erário público. Absolutamente ninguém pode fazer fortuna no exercício de funções públicas. Não é normal ver os principais atores políticos envolvidos em problemas com a justiça recorrentemente. Também não é normal não existir comunicação social isenta e imparcial, pois que dela são donos os principais agentes económicos da Região. Tem de existir uma separação entre os interesses públicos e os interesses privados: estes não se alinham. A sua natureza é distinta. Nunca serão inteiramente compatíveis.
São situações que não podem ser normalizadas numa sociedade livre e esclarecida (somos uma?).
Cheguei à triste conclusão que no período que permeia eleições o povo vale zero para o poder político. É mesmo assim, por mais que digam o contrário. E depois das eleições estão mais preocupados em fazer fortuna e cumprir com as promessas que fizeram ao agente económico que os colocou no cargo. A realidade é esta.
Mas em época de eleições... o povo é que manda, e não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar estes momentos por desinteresse e comodismo. Lembrem-se: é isso que eles esperam de nós.
Por isso, aos que se estão a borrifar para estas autárquicas, apelo a uma revolução tranquila e silenciosa.
Não é necessária violência, ofensas, bilhardice, manifestações ou “barulho” nas redes sociais ou nos cafés. Sejamos francos, isto de nada serve.
Nesta altura, só uma coisa interessa: votar.
A estrada está esburacada? Vai votar. A recolha de lixo não funciona? Vai votar. Não há quem controle o ruído? Vai votar. O parque infantil está em más condições e é inseguro? Vai votar. O escoamento está cheio de erva daninha? Vai votar. Ninguém fiscaliza a limpeza dos terrenos? Vai votar. Não há zonas verdes, só betão? Vai votar. Estacionamento selvagem? Vai votar. Invasão do passeio por esplanadas? Vai votar. O licenciamento só sai com “um jeitinho”? Vai votar. O planeamento urbano esquece os que carecem de mobilidade? Vai votar. Os bares ficam abertos até altas horas da madrugada, atraindo confusões e zaragatas? Vai votar. Os estacionamentos municipais são usados como prémios para a lealdade partidária? Vai votar. Só te cumprimentam em época de eleições? Vai votar. Sabes de alguém que passou à frente por cunha? Vai votar. Os problemas só são resolvidos rapidamente para uns? Vai votar. Achas que há outros que merecem uma oportunidade? Vai votar. Conheces quem esteja a fazer fortuna num cargo público? Vai votar. Estás-te nas tintas para tudo e todos? Vai votar (manda-os passear no boletim de voto). Achas que sozinho não fazes a diferença? Vai votar e leva a tua família, amigos, conhecidos, o putchi, o tareco e o douradinho.
Nesta revolução tranquila só uma coisa interessa: votar.
Ganhar a discussão no café, jantar ou nas redes sociais de nada serve. É uma perda de tempo. Eles não estão interessados em raciocínio, lógica, factos ou na verdade. Com eles é mais poder, jogadas, dinheiro e fulanas. Se falas ou escreves mas não votas, estás a fazer-lhes um favor. É mesmo isso que eles querem. E depois ainda te chamam de ressabiado nos grupinhos de whatsapp.
Por isso vota. E leva todos os que puderes contigo. Faz a tua parte. Convence os teus pais. Chateia o teu tio. Vai buscar a tua avó. Leva os teus amigos. Espalha esta mensagem. Faz a diferença agora, enquanto ainda és importante. Depois das eleições, para eles, voltas a valer zero.