O tema desta notícia, este cenário, que difere do padrão geral do continente, onde as doenças do aparelho circulatório ainda são a principal causa de morte, sugere, ou melhor, aponta para a combinação de fatores específicos da realidade madeirense.
A razão para a elevada incidência e mortalidade por cancro na Madeira está, em grande parte, ligada a hábitos de vida e a fatores de risco bem documentados. A análise do Registo Oncológicos na Madeira tem apontado para as seguintes razões:
- Vários estudos e registos oncológicos indicam que a elevada incidência de cancros como o do pulmão, da cavidade oral e da laringe está diretamente associada a hábitos tabágicos e ao consumo de bebidas alcoólicas. A taxa de incidência de cancro em homens madeirenses é, inclusive, superior à média nacional, o que pode ser justificado pelo tipo de tumores mais frequentes e pela sua ligação a estes fatores de risco.
- O facto de muitos casos serem diagnosticados em estádios avançados (estádios 3 ou 4), quando a doença já se espalhou (metastização), contribui significativamente para as baixas taxas de sobrevivência. A falta de procura por cuidados de saúde em fases iniciais da doença, por vezes por desconhecimento ou por medo, leva a que os tratamentos sejam menos eficazes.
- O envelhecimento é o fator de risco mais importante para a maioria dos tipos de cancro. Com o aumento da esperança de vida, é natural que a incidência de doenças crónicas como o cancro também aumente. A população da Madeira, tal como a do resto do país, tem vindo a envelhecer, o que, por si só, já seria um fator a considerar.
Mas o cancro aumentou ou as doenças do aparelho circulatório diminuíram? A inversão do padrão de mortalidade (cancro a ultrapassar as doenças do coração) não se deve apenas ao aumento de casos oncológicos, mas também à melhoria no combate às doenças cardiovasculares. Os progressos no tratamento e prevenção de doenças do aparelho circulatório, como a hipertensão e o colesterol elevado, têm sido notáveis. O acesso a medicamentos e a cirurgias mais eficazes tem permitido que as pessoas vivam mais tempo com doenças cardíacas, atrasando a sua progressão para causa de morte.
Embora ainda haja muito a fazer, as campanhas de saúde pública para alertar sobre os riscos de doenças cardiovasculares (alimentação, sedentarismo, etc.) têm vindo a surtir algum efeito. No entanto, o mesmo nível de sucesso e impacto parece não se refletir na prevenção do cancro.
A elevada taxa de mortalidade por cancro na Madeira, que ultrapassa a das doenças do coração, deve-se a uma combinação de fatores de risco comportamentais (como o tabagismo e o consumo de álcool), ao diagnóstico tardio e ao envelhecimento da população. A realidade madeirense destaca a necessidade de um foco ainda maior na prevenção primária (sensibilização para hábitos de vida saudáveis) e na prevenção secundária (rastreios e diagnóstico precoce) para enfrentar este desafio de saúde pública.
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