Miguel Silva Gouveia, uma voz que faz frente à hipocrisia política.


O texto de Miguel Silva Gouveia é um exemplo raro — e precioso — de lucidez política, coragem cívica e rigor argumentativo. Num tempo em que muitos preferem palavras mornas e discursos calculados, ele optou pela frontalidade. E ainda bem. Porque o que está em causa não é apenas uma declaração infeliz de José Luís Nunes — é uma radiografia perfeita à hipocrisia instalada entre aqueles que, estando sentados em cargos públicos, usam a função para proteger interesses privados.

Miguel faz aquilo que muitos evitam: expõe o conflito de interesses de forma clara e sem rodeios. Um presidente da Assembleia Municipal do Funchal — eleito pelo PSD — que simultaneamente é proprietário de um infantário privado, vem agora defender que o Estado deve sustentar financeiramente colégios e creches privadas “não rentáveis”. Ora, isto não é apenas incoerência. É trafulhice política. É usar o discurso público para favorecer o negócio privado. É, no mínimo, uma afronta à Constituição da República Portuguesa, que consagra que todas as crianças têm direito a uma educação livre, gratuita e garantida pelo Estado — não subcontratada à iniciativa privada ao sabor de interesses particulares.

O mérito do texto de Miguel Silva Gouveia está precisamente aí: não deixa passar esta manobra como um simples deslize discursivo. Ele desmonta a contradição ponto por ponto, expõe o oportunismo político, denuncia a precarização disfarçada de proposta pedagógica e, acima de tudo, defende com firmeza a dignidade da escola pública e dos profissionais da educação.

Num país onde tantas vezes se confunde “moderação” com “silêncio cúmplice”, Miguel escolheu o caminho certo: o da clareza, da denúncia e do compromisso com o bem público.

Por isso, parabéns, Miguel. Precisamos de mais vozes assim — que chamem as coisas pelo nome e não deixem que os corredores da política se transformem em passagens diretas para a promoção de interesses privados.