Despedir é o novo "progresso".


A narrativa oficial vende “modernização”, mas o país acorda para uma verdade grotesca: o Governo transformou a precariedade numa política de Estado. Em troca de slogans brilhantes e discursos ocos, entregaram ao patronato um arsenal jurídico pronto a esmagar qualquer resistência laboral. O contrato social foi reescrito à pressa e à sombra, o trabalhador passou oficialmente a ser descartável, substituível, silencioso por medo.

A nova legislação labora como um bisturi sem anestesia. Cortou-se a coluna vertebral da protecção laboral com uma elegância perversa, despedimento ilícito sem reintegração; contratos a termo esticados até à humilhação; pais e mães sem direito a recusar horários assassinos; processos disciplinares simplificados até à absurdidade. A isto chamam “competitividade.” Mas a competitividade que se constrói à base do medo não é eficiência; é chantagem social disfarçada de reforma.

Cada medida revela o mesmo desígnio, criar um trabalhador fragilizado, eternamente em dívida para com o emprego, grato por não ser o próximo na fila do abate. A estabilidade deixou de existir; o futuro encolheu; a família passou a ser um inconveniente; a justiça tornou-se uma lotaria. O Governo reduz direitos pela porta das traseiras, enquanto vende ao público uma fantasia tecnocrática de “flexibilidade inteligente.” Inteligente para quem? Certamente não para quem trabalha.

E, no entanto, a arrogância é tal que nos tratam como se não víssemos o óbvio: estas leis são um presente embrulhado para o capital e um golpe directo no coração de quem vive do seu trabalho. Falam em eficiência, mas o que garantem é a submissão. Falam em modernidade, mas o que impõem é o medo. Falam em progresso, mas o país afunda-se num regime laboral medieval mascarado de política económica.

O que nos resta? A denúncia frontal. A resistência organizada. A recusa em aceitar que a dignidade seja um cálculo de custos. Se o Governo decidiu tornar a insegurança obrigatória, então a luta torna-se inevitável. Porque a precariedade não é reforma, é violência. E é contra esta violência que o país terá de se erguer.