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| Fortificação da Imunidade |
A s últimas semanas trouxeram sinais inequívocos de que o cerco judicial a Miguel Albuquerque, está a apertar-se, e rapidamente. A coincidência temporal entre as notícias da Sábado, que dão conta da iminência de um pedido de levantamento da imunidade, e do Diário de Notícias da Madeira, que antecipa acusações formais da Operação Ab Initio já em dezembro, não deixa margem para dúvidas: esta liderança está a prazo.
O Ab Initio, investigação que começou por se centrar no alegado financiamento ilegal do PSD-Madeira, evoluiu para um processo de ramificações vastas, que abrange mais de duas dezenas de arguidos, muitos deles figuras cimeiras do chamado “albuquerquismo”. A acusação, praticamente concluída, promete abalar as fundações do sistema político regional.
Houve alguém que abriu a boca, e não é difícil perceber quem foi.
Outros dossiês, como o caso do Lar da Bela Vista e o processo da Praia Formosa, permanecem em investigação, alimentando a percepção de um padrão de promiscuidade entre poder político, negócios e financiamento partidário. Segundo a imprensa nacional, o Ministério Público pretende consolidar todos os processos em que Albuquerque é visado, para que o eventual levantamento da imunidade sirva de base à tramitação conjunta de investigações que se cruzam nos mesmos protagonistas e nos mesmos métodos.
O que parecia impensável há dois anos, a inibição temporária ou definitiva de funções de Miguel Albuquerque, começa agora a ser uma probabilidade. As fontes judiciais ouvidas pela comunicação social confirmam que a acusação está praticamente pronta, e que os investigadores deverão regressar à Madeira antes de a formalizarem. Se o pedido de levantamento de imunidade for efetivamente aceite, Albuquerque será afastado preventivamente do cargo, abrindo um vazio de poder que o PSD-Madeira dificilmente conseguirá preencher sem turbulência interna.
Em causa não está apenas a imagem pessoal de Albuquerque, que sobreviveu após os primeiros indícios de corrupção ativa, prevaricação, tráfico de influências e abuso de poder. Agora o contexto é diferente: há nomes, provas documentais e fluxos financeiros sob escrutínio.
O “albuquerquismo”, que durante anos se sustentou numa combinação de carisma, pragmatismo e rede de lealdades, entra agora numa fase de desintegração. O PSD-Madeira, ainda sob o seu comando, terá de se preparar para um período de transição forçada, possivelmente mais cedo do que se pensa. Os potenciais sucessores, alguns deles também referenciados em processos paralelos, sabem que a herança será pesada.
A Operação Ab Initio pode, portanto, representar o ponto de viragem definitivo: o momento em que a Madeira começa a confrontar-se com o preço político de décadas de governança dominada por um círculo restrito de poder e influência. E como tantas vezes acontece na história, o fim de um ciclo raramente acontece por via eleitoral acontece quando o sistema, por dentro, se torna insustentável.
