O grande caça-fortunas do reino da hipocrisia


A ndré Ventura anda outra vez à caça do “Pote Dourado”. Sempre com aquele ar de quem descobriu a fórmula da justiça divina, mas apenas para a aplicar aos outros, nunca a si próprio. Grita que quem recebe o RSI, aqueles pobres que vivem com uns tristes 242,23 € por mês, são “malandros” e “sanguessugas”. Mas quando olhamos para a família-tipo, dois adultos, duas crianças, com o “grande tesouro” de 654,03 €, começamos a perguntar: isto é vida ou é castigo?

Enquanto isso, o nosso herói do moralismo moderno recebe 4.603,58 € brutos por mês na Assembleia da República, mais 10% para “representação”. Representa o quê? Talvez uma escola avançada de acrobacia retórica, onde se aprende a chamar “parasita” a quem vive com trocos, enquanto se engole, sem engasgar, um ordenado turbinado pelo próprio Estado que se diz tão sugado.

Como Primeiro-Ministro falhado, Ventura queria morder um prémio melhor: 8.768,65 € mensais, mais 40% para “representar” ainda mais. Representar quê? A Virtude Universal? A Justiça Imaginária? Ou apenas o sonho dourado de viver no conforto que critica nos outros? Não ganhou. Ficou-lhe o apetite.

Agora tenta Belém. Não para ser Presidente da República, isso é um pormenor, mas para garantir o super-jackpot de 11.718,2 € mensais, já com despesas incluídas. Um sonho tão brilhante que até o Sol teria inveja. O problema é simples: diz que quem recebe 242,23 € é o malandro. Mas quem corre atrás do maior salário do Estado, eleição após eleição, é o quê? Um santo? Um mártir? Ou apenas um artista do teatro moralista, especialista em virar o discurso contra quem tem menos?

A verdade dói, mas não morde: o maior caça-fortunas do Estado chama “preguiçosos” aos que mal têm para viver. Ele sim vive do Estado. Ele sim mama no erário. Ele sim não larga o osso. Se não tivesse a política, estaria onde? A queixar-se dos vizinhos? A ralhar no café? A despejar veneno num call-centre vazio? A tentar encontrar harmonia num mundo que não lhe deve nada?

Há quem trabalhe muito. Há quem lute para sobreviver com 242,23 €. E há quem faça carreira a acusar os outros de viverem à custa do país, enquanto persegue obsessivamente cada novo nível salarial do Estado. Que cada leitor pergunte: quem é o malandro? Quem é o sanguessuga? Quem é o verdadeiro artista da hipocrisia?

Resposta? O pote dourado que ele tanto procura tem um espelho lá dentro.