O que diriam no continente se Montenegro investisse em campos de golfe?


M iguel Albuquerque está zangado com Bruxelas pela maneira como tratam as RUPs, porque vão centralizar as decisões dos fundos. Porque usa o artigo 349 do Tratado para garantir  instrumentos de financiamento adequado às regiões mais periféricas da UE? Albuquerque está preocupado com questões como a coesão, a agricultura, os transportes, fundos estruturais, o impacto das mudanças geopolíticas, económicas e climáticas nas RUPs?

Corrijam-me se estiver errado, este é o indivíduo que anda a gastar dinheiro público em campos de golfe, que trouxe a insustentabilidade à Região com o excesso de turismo, o indivíduo que neutralizou o ferry Madeira - Continente, o governante que até esfrega as mãos com o abandono da agricultura porque são mais terrenos disponíveis para a construção, quem vai cortar nos medicamentos quando faltam para os mesmos tratamentos, etc? Este é o indivíduo que ficou a gerir todo o PRR sem nada para madeirenses e empresas privadas?

Quer gerir dinheiro porquê? A festa vai acabar e agora vamos saber que sustenta os pobres da Região, enquanto o sistema abusa do dinheiro público? Sabemos que Albuquerque tem muita lata, como aquela usada para defender o CINM, mas em toda esta descrição, de quem é a culpa da centralização dos fundos europeus? Certamente Albuquerque é dos abusadores que mais contribui, ainda por cima com a conjuntura a mudar para uma economia de guerra. Albuquerque só acordou agora porque lhe chegou ao pêlo?

Se Montenegro investisse em campos de golfe como o Albuquerque faz na Madeira, com dinheiro público, a decisão seria imediatamente criticada porque é uma loucura usar o Plano de Recuperação e Resiliência para infraestruturar o investimento privado lúdico, imobiliário ou de alojamento (hotel). Não cabe ao dinheiro público fazer isso, então e as prioridades sociais? Tenho a certeza que seria dizimado pela oposição e comunicação social. Aqui passa incólume. No mesmo país!

Colocar campos de golfe à frente de serviços sociais básicos é visto como governar para as "elites" ou para o turismo de luxo em detrimento do bem-estar geral. Os campos de golfe são grandes consumidores de água (um recurso escasso, especialmente perante o excesso de turismo e as alterações climáticas) e de terrenos, levantando preocupações ambientais e de uso de recursos.

Se Luís Montenegro (PM de Portugal) decidisse investir dinheiro público em campos de golfe, a reação seria de total reprovação por parte da oposição e de grande parte da imprensa, por duplicar o modelo controverso da Madeira, que tem sido criticado por despesismo e prioridades erradas, a nível nacional.

Se Montenegro fizesse o mesmo que Albuquerque teria o antecedente recente de conflito de interesses coma  Spinunviva, e faria disparar imediatamente acusações de favorecimento ou conflito de interesses, exigindo esclarecimentos imediatos sobre a transparência do processo.

Albuquerque deve fechar a boca porque estamos mal vistos na UE, ainda podem levantar questões sobre o uso indevido de fundos destinados a coesão, digitalização ou transição energética para um projeto de luxo não essencial.

O foco em campos de golfe reforça a imagem de um modelo de turismo de massa/luxo, que muitos países europeus estão a tentar equilibrar com um turismo mais sustentável, cultural e ambientalmente responsável.

Estamos, com a arrogância de Albuquerque a nos meter na boca do lobo. A UE tem outras prioridades e já deveríamos estar emancipados.