S er reitor da Universidade da Madeira, neste momento, deve ser um daqueles trabalhos que ninguém inveja. É como estar ao leme de um barco que tenta manter dignidade enquanto todos os alarmes disparam, a tripulação se divide entre pânico e desespero, e o público observa da margem a perguntar-se quanto tempo falta até começar a entrar água pela porta principal.
Nos últimos meses, a UMa transformou-se num retrato vivo da precariedade universitária portuguesa: falta de financiamento, decisões que chegam tarde e mal, estruturas que pedem socorro há anos, e uma sensação geral de que a instituição se aguenta mais por teimosia do que por apoio real. A população académica, estudantes, professores, funcionários, vê a cada semana um novo sinal de alerta, como quem assiste a uma novela trágica sem intervalo.
E no centro disto tudo está o reitor, condenado a assistir a este enredo como protagonista involuntário. Não por má vontade, mas porque o cargo exige que seja ele a pôr a cara quando a casa está a arder.
Por isso, caro reitor, permita-me este apelo irónico, quase desesperado: por favor, não deixe que a Universidade da Madeira seja empurrada para o abismo. Não permita que a instituição que carrega o nome da região, que forma gerações inteiras de jovens madeirenses, que luta diariamente contra todas as limitações geográficas, orçamentais e políticas… acabe por se transformar num caso de estudo sobre como não gerir o ensino superior.
A UMa merece melhor do que sobreviver à custa de remendos. Merece estabilidade, visão, estratégia e, acima de tudo, coragem institucional para evitar que o próximo capítulo seja a vergonha suprema: ver portas fechadas “temporariamente”, palavra que, no contexto português, costuma significar “para sempre”.
Os estudantes não merecem sair do continente do conhecimento para o continente físico só para ter ensino digno. Os professores não merecem viver na corda bamba da incerteza. E a Madeira não merece perder a sua única universidade, conquistada com décadas de luta e pertinácia.
Chega de discursos formais, relatórios que ninguém lê e reuniões infindáveis: é preciso ação. É preciso exigir o que for preciso exigir, bater nas portas certas — e, se necessário, bater mais forte. Porque se a UMa cair, não cai só uma instituição: cai um símbolo de autonomia, desenvolvimento e futuro.
E depois? Depois ficará a ilha com mais uma tristeza política para arquivar e menos uma esperança académica para oferecer aos seus jovens.
Por isso, senhor reitor, fica o pedido, sincero na intenção e ácido na forma, faça tudo, absolutamente tudo, para que a Universidade da Madeira não acabe como mais uma história triste da região.
A comunidade já tem vergonhas suficientes para colecionar. Não precisa de mais esta.
