A unidade que tira o sono a alguns


D iz-se na Madeira que há quem conte ovelhas; outros contam fantasmas. Ultimamente, no PPD-PSD e no JPP, há quem não durma a imaginar “divisões” no PS-M que só existem na cabeça de quem vive melhor com o caos alheio. É compreensível: um Partido Socialista unido é como um despertador numa sesta longa — incómodo, eficaz e impossível de ignorar.

Comecemos pelo essencial, para não nos perdermos no folclore. Por “regeneração” entende-se melhorar regras, ideias e resultados. Por “limpeza”, quando não se explica como, por quem e com que critérios, entende-se apenas barulho. É simples: sem definição não há reforma; há arbitrariedade. E arbitrariedade é o desporto favorito de quem governa sem responder aos problemas reais.

Perguntemo-nos, então, com calma: o que assusta tanto os adversários do PS-M? Será a democracia interna? A pluralidade? A estranha mania de falar de salários, casas e serviços públicos enquanto outros preferem falar de si próprios? Há partidos que giram à volta do líder como satélites cansados; o PS-M insiste em girar à volta das pessoas. Dá menos selfies, mas resolve mais problemas.

Os factos são teimosos. A Madeira tem melhorias estatísticas, sim, mas mantém feridas abertas: habitação cara, rendimentos curtos, serviços sob pressão. Estes problemas não se resolvem com moralismos performativos nem com cartas inflamadas. Resolvem-se com políticas públicas, método e prioridades. A política, quando é séria, não é um concurso de virtudes — é uma oficina de soluções.

A ciência política ensina algo básico: em sistemas proporcionais, dividir a esquerda é oferecer flores à direita incumbente. Miguel Albuquerque agradece. O populismo sorri. O JPP capitaliza a frustração. E depois fingem surpresa. Simplificar conflitos complexos em “bons” e “maus” pode dar cliques, mas fragiliza instituições. É a gramática do populismo — e copiá-la nunca foi uma boa estratégia para quem defende a democracia.

Há, felizmente, uma alternativa pouco excitante para os incendiários e muito eficaz para os cidadãos: unidade com regras, crítica com proposta, humor com inteligência. Governar exige equilíbrio, proporção e coragem tranquila. Não purgas simbólicas. Não ruído. Não medo.

No PS-M não há divisões imaginárias; há debate democrático. E isso, para quem vive do espetáculo, é intolerável. A nós, interessa outra coisa: salários dignos, casas acessíveis, Estado social forte. O resto é teatro. E teatro, como se sabe, aplaude-se — não governa.

Enquanto alguns tremem, nós trabalhamos. E é isso que verdadeiramente lhes tira o sono.