André Ventura pode chegar a Presidente da República, sigam o raciocínio.


N inguém acreditava num Chega como segunda força política nas últimas legislativas nacionais, mas agora para André Ventura chegar a Belém, já ninguém leva a brincar quando está sempre à frente das sondagens na primeira vota. Já não precisamos de uma teoria que assente num "alinhamento planetário" de três fatores críticos: a fragmentação do centro, a presidencialização do discurso e o fenómeno do "voto envergonhado" na segunda volta. Ou sim?

Ao contrário da Esquerda, que está fragmentada entre vários nomes (Seguro, candidatos mais à esquerda, etc.), a Direita radical está consolidada num único rosto! Vão votar no candidato do sistema, Marques Mendes para tráfico de influências com Albuquerque e Montenegro? A Direita moderada pode apresentar dois ou três nomes, mais institucional, mais liberal, etc, mas Ventura beneficia do facto de ser o único "dono" do seu eleitorado! Que não vacila.

Numa primeira volta com 6 ou 7 candidatos, pode nem ser preciso muito mais de 20% a 22% para garantir o segundo lugar. Se a esquerda se canibalizar e o centro-direita se dividir, Ventura tem o caminho aberto para a segunda volta apenas por ser o candidato mais "fiel" à sua base. Ele não precisa de convencer a maioria de que é um moderado; precisa apenas de convencer uma fatia suficiente de que é o único capaz de exercer o poder de veto contra o sistema atual. Ao contrário de Marine Le Pen, que demorou décadas a "desdiabolizar-se", Ventura opera numa era de redes sociais onde o ruído constante torna o eleitorado imune ao choque. Ele pode passar de "radical" a "alternativa antissistema" muito rapidamente aos olhos de quem está descontente.

Mendes vai vacilar, Gouveia e Melo recuperar e já vejo que os "Seguristas" começaram a argumentar um voto útil. Pode haver uma segunda volta entre um candidato da Esquerda como António José Seguro e André Ventura. É um erro da Esquerda assumir que todo o eleitorado de Direita moderada votará na Esquerda para travar Ventura. Uma parte considerável do eleitorado do PSD/CDS pode preferir um "Presidente que incomode o Governo de Esquerda" do que um "Presidente que colabore com a Esquerda". Se a narrativa de "perigo comunista" ou "estagnação do PS" for forte o suficiente, o eleitor de direita moderada pode votar em Ventura, não por convicção, mas como arma de arremesso. Não se esqueçam dos seguidores de Passos Coelho.

No caso de candidatos populistas, existe o Efeito de Bradley! Muitos eleitores não admitem às empresas de sondagens que votam em Ventura por ser socialmente penalizador, mas fazem-no na urna. Pelas minhas contas, Ventura dá mais 5% do que dá nas sondagens. Numa eleição de duas voltas, essa margem é a diferença entre ser eliminado ou tornar-se um concorrente legítimo.

As Presidenciais são a eleição da emoção e da figura. Se Ventura conseguir transformar a eleição num referendo entre "as elites de Lisboa" e "o Portugal esquecido", ele retira o debate do plano da competência e coloca-o no plano do simbolismo. E o Presidente da República é, acima de tudo, um símbolo. Ventura é uma outra forma de proximidade.

André Ventura chega a Presidente se conseguir transformar a Primeira Volta num teste de sobrevivência da Direita e a Segunda Volta num referendo ao regime. Se a Esquerda continuar a acreditar que o "cordão sanitário" dos votos de Mário Soares ainda existe de forma automática, pode ter o despertar mais rude da democracia portuguesa. Não há "Mários Soares" na Esquerda atual.

Estou saturado de indivíduos como o Marques Mendes, aquelas ratas de sistema. Isto vai dar um Ventura - Gouveia e Melo ou Seguro.