O ferry é preciso, deixa de haver "embargos".



N esta ilha galardoada a peso de ouro, continuamos a viver as confusões que a Governação nos mete para andar a proteger lóbis e monopólios, mas também dois secretários incompetentes. É confusões no subsídio social de mobilidade e todos em favor da manutenção do monopólio dos porta contentores. José Manuel Rodrigues foi colega de escola de Luís Miguel Sousa e toda a sua presença em cargos políticos e executivos joga em favor do amigo.

A falta que um ferry faz, jogo simples e não depende de ninguém, o cliente orienta-se e ele só navega.

Numa ilha que depende quase totalmente do exterior para se abastecer, é incompreensível continuar a tratar os transportes como um assunto secundário. A Madeira vive refém de um sistema frágil, caro e pouco resiliente, baseado quase exclusivamente no transporte aéreo e num modelo marítimo limitado, sem alternativas reais quando surgem problemas. E quando os problemas surgem, o caos instala-se.

Basta um impasse num porto, uma greve, uma falha informática ou mau tempo para que mercadorias fiquem retidas, preços disparem e o abastecimento seja posto em causa. A notícia de Leixões é apenas mais um episódio numa longa lista de alertas ignorados. O discurso repete-se: “situação excecional”, “problema pontual”, “será resolvido em breve”. Mas a exceção já tornou-se regra pelas fragilidade e dependências do transporte por contento em porta-contentores.

O mais paradoxal é a resistência histórica a um ferry de ligação regular ao continente, dois ou três a traingular semanalmente com os Açores ou usando o das Canárias. Um ferry não seria um luxo nem um capricho romântico como muitos tentam alcunhar, um ferry é rentável e então com o mesmo apoio do GR que deu quando arrancou com a linha Madeira-Porto Santo... mais ainda. Seria uma infraestrutura estratégica! Permitiria transporte de mercadorias, viaturas, profissionais, estudantes e residentes, criando redundância num sistema que hoje não a tem. Em qualquer território insular moderno, redundância é segurança.

Em vez disso, a ilha insiste em apostar quase tudo no avião, caro, vulnerável ao clima e insuficiente para cargas, e em concessões portuárias que mostram pouca flexibilidade quando algo falha. Quando o sistema bloqueia, descobre-se tarde demais que não existe plano B. É a história da Madeira, como o Plano de Contingência do aeroporto sem resultados práticos na hora da verdade. O melhor ainda é a comunicação social não dar notícias. O que acontece, é o verdadeiro plano de contingência... a ignorância.

A oposição ao ferry é frequentemente mascarada de argumentos económicos duvidosos ou de proteção de interesses instalados. Mas quem paga o preço são as empresas, as famílias e, no limite, a própria autonomia regional, que fica dependente de decisões e infraestruturas sobre as quais não tem controlo. Eu odeio jornalistas que passam o tempo a mentir para servir quem lhes dá boa vida.

Uma região que se quer moderna, competitiva e autónoma não pode continuar a viver com soluções mínimas e improvisadas. A pergunta já não é se um ferry faz sentido. A pergunta é quanto mais tempo a Madeira pode dar-se ao luxo de não o ter.

Esta ilha atrofia o mérito e chuta as boas pessoas.