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| Jovens digitais numa Madeira analógica. |
N atal e fim de ano, época de celebrar e pedir desejos para voltar a cair nos mesmos erros e nos mesmos enredos da vida. Andam por aí a dizer que os negócios já não são o que eram, há muitas misturas nas tradições, o Natal comercial coloca muitos a um canto à espera que a febre passe. É mais um tempo de ilusões em que se anunciam mais aumentos.
Na Madeira, o custo de vida deixou de crescer devagar e passou a correr mais depressa do que os salários. A habitação é o exemplo mais visível: rendas incomportáveis, casas, comércio, edifícios da baixa transformadas em alojamento local, compra orientada para quem vem de fora com maior poder financeiro. O resultado é simples e duro, os madeirenses, sobretudo os jovens, ficam para trás.
Hoje, muitos jovens não conseguem sair da casa dos pais, mesmo trabalhando. Outros adiam projetos de vida, como casar, ter filhos, criar raízes, porque não há estabilidade nem perspetiva de futuro. Isto não é apenas um problema económico; é um problema demográfico e social. Estamos, na prática, a perder gerações inteiras para a procriação, para a continuidade da própria sociedade madeirense.
Ao mesmo tempo, a Região vai-se habituando a uma lógica perigosa, em vez de criar condições para que quem cá nasceu fique, aceita-se que saia, e depois “compensa-se” com a importação de mão de obra. Pessoas que vêm porque têm dinheiro suficiente para suportar preços inflacionados em grupo numa habitação de 10 ou 15, ou aceitam salários baixos, porque comparados com o país de origem ainda “valem a pena”.
Isto cria um ciclo injusto, o salários mantêm-se baixos, porque há sempre quem aceite. As empresas não sentem pressão para melhorar condições, os jovens locais continuam a emigrar, a identidade social e cultural vai-se diluindo, não por integração saudável, mas por substituição forçada.
Importa dizer que o problema não são as pessoas que vêm. O problema é um modelo económico e político que não protege os naturais que cá vive, não regula a habitação de forma eficaz, não valoriza o trabalho locale trata a Madeira como um produto, não como uma comunidade.
Se uma terra não permite que os seus filhos vivam nela, essa terra está a falhar no essencial.
E se continuarmos a normalizar isto, a Madeira corre o risco de se tornar um lugar bonito, lucrativo… mas sem futuro próprio. E sem tradições natalícias que já dizem estar diluídas por que cá chega. Afinal o inimigo é o próprio madeirense que se vê com algum poder.
Emprego qualificado, salários condignos, oportunidades para ficar na Madeira, para quando? Não se vê ninguém preocupado e para o ano acaba o Recuperação e Resiliência, mais uma oportunidade perdida.
