D epois de ver umas fotos do jantar de Natal (link), percebe-se ainda mais o grau de subserviência de um órgão de comunicação social, não é que surpreenda, mas adiciona o embevecimento convicto no patronato, no sistema no sustento financeiro. Um novo paradigma do editorial.
“Não li, mas acho que…” tornou-se o novo insulto preferido de quem prefere desacreditar a opinião em vez de explicar a ausência da notícia. Um tique daqueles políticos que não têm água com que se lavem, mas têm o condam de por os outros a se explicar e justificar, alivia as costas e o tempo é consumido pelos outros. A frase serve bem para ridicularizar cidadãos, mas curiosamente nunca é aplicada a quem decide o que não se publica! O curioso é que o cidadão que opina também é assinante... ou não.
Dizem-nos que não se pode opinar sem informação. Concordo. O detalhe que convenientemente esquecem é que informação muitas vezes não chega porque alguém decidiu que não devia chegar. Concordam?
Quando um jornal é propriedade de empresários bem integrados no sistema, quando recebe financiamento público e quando evita temas incómodos com a delicadeza de quem não quer morder a mão que alimenta, o problema já não é a opinião dos cidadãos. É o vazio deixado pela notícia que nunca saiu.
Nesse vazio, as pessoas não inventam por gosto. Comentam o que veem, o que sabem, o que vivem e o que lhes é sistematicamente escondido. A opinião, nesse contexto, não é leviandade, é sobrevivência cívica.
É curioso assistir à indignação seletiva, incomoda mais um site de opinião do que um jornal que confunde informação com relações públicas. Incomoda mais quem comenta do que quem cala. Incomoda mais o ruído dos cidadãos do que o silêncio editorial.
Agora, usar frases feitas e “pensamentos profundos” para campanhas de assinaturas enquanto se ignora o essencial, a falha do dever informativo, é uma ironia que quase se escreve sozinha. Critica-se a opinião como se ela fosse a doença, quando na verdade é o sintoma, a consequência, a ausência, o intocável...
Se a notícia fosse publicada, a opinião seria menos urgente.
Se o jornalismo cumprisse o seu papel, ninguém precisaria de preencher os espaços em branco.
Mas enquanto a informação for filtrada pelo conforto do regime, a opinião continuará a acontecer, não porque os cidadãos não leem, mas porque alguém decidiu que eles não deviam saber. Quantos episódios de vergonha já passaram com continentais mais aptos a dar as notícias da terra?
Que o Pai Natal traga um espelho.
