T emos, ultimamente, visto e ouvido várias vezes as “sentenças”: “Os portugueses não querem eleições!”; “Os portugueses estão cansados de eleições!”... Confesso que não sei onde é que quem o diz foi desencantar estas certezas, em que estudo de opinião se baseou, qual a mensagem telepática que recebeu de “todos” os portugueses...
Pelos comentaristas e demais emissores de bitaites deste género, facilmente se conclui que quem não quer eleições ou está, hipoteticamente, “cansado” delas são exactamente esses que se queixam em nome dos portugueses. Curiosamente, são os políticos debaixo de fogo, e os seus defensores, alvo de suspeitas de comportamentos menos claros e, quiçá, potencialmente ilícitos, ou, no mínimo, condenáveis, que se arvoram em conhecedores da mente humana, pelo menos da portuguesa, e dos seus desejos e anseios.
Desde há muito, no continente e na Madeira (nos aspectos referidos, os Açores têm andado aparentemente calmos), suspeitas (e algumas certezas) de actividades condenáveis por detentores de importantes cargos políticos têm abalado a confiança dos cidadãos nos seus dirigentes. E, de cada vez que se cava mais um pouco, mais lama aparece e o mau cheiro aumenta.
São os órgãos de comunicação social, são as entidades policiais e judiciais, a Autoridade Tributária, a Ordem dos Economistas, a Entidade para a Transparência, o Tribunal de Contas, etc, etc, que põem questões, fazem perguntas, levantam dúvidas, deixam no ar a ideia de que alguma coisa não está bem entre aqueles que alardeiam serem impolutos governantes do país e da Região.
O país prepara-se para ir a eleições por manifesta desconfiança sobre a actuação do actual primeiro-ministro, que misturou a actividade individual e particular com a actividade política e pública.
Na Madeira, desde há muitos anos, a governança política tem sido alvo de consecutivas dúvidas (e muitas certezas) sobre actividades potencialmente ilegais, favores, trocas de interesses, manobras estranhas entre a classe política no Governo Regional e várias entidades privadas, para não falar em todas as nebulosidades que envolvem as Juntas de Freguesia, as Casas do Povo, as associações desportivas, as instituições culturais, todos aqueles que se dispõem a, e gostam de, ser dependentes dos favores do poder e que, obrigatoriamente, lhe prestam vassalagem e que acabam por dele serem mais uma extensão, com todas as consequências, boas e más, que daí advêm.
Nos 37 anos (de 1978 a 2015) que esteve à frente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, astuciosamente, e com apoios que até aos nossos dias ainda não foram totalmente esclarecidos, embora não faltem suspeitas e suposições, criou um sistema clientelar cada vez mais dependente dele e dos seus governos, que com o tempo se transformou e cimentou em rede tentacular, política, económica, empresarial, que quase tudo controla, domina e gere. Daí as consecutivas maiorias absolutas que o PSD Madeira foi obtendo, mesmo quando o clima político e social, principalmente este, se foi degradando mais e mais ao longo dos anos.
A substituição do líder do PSD Madeira, por manifesta extinção da capacidade de AJJ de gerir uma situação visivelmente ingerível, não trouxe grandes alterações ao desgastado e vicioso clima que se vivia.
Mudaram a face principal do sistema, mas o sistema manteve-se; a rotatividade de capangas e esbirros pelas diversas áreas de influência laranja faz com que sejam sempre os mesmos a controlar tudo. Se hoje o fulano A está à frente do clube X, amanhã estará o sicrano B, que hoje gere a associação Z, e A passará para os comandos da Z... E assim sucessivamente, num verdadeiro ciclo (e círculo) vicioso que parece ser difícil de eliminar. Até porque, e temos vários exemplos actuais na nossa praça, a verticalidade e a honra são conceitos em desuso e não passam de palavras; basta apreciar os camaleões “alpinistas”, que vão saltando de partido em partido até conseguirem um lugarzinho “ao sol” e a quadrilha ideológica que antes criticavam serve agora de refúgio, defendendo-a com o mesmo fervor com que antes a atacavam.
As promessas repetem-se, mas acabamos por perceber que só se cumprem aquelas cujo retorno compense, e, em consequência, o Ministério Público indiciou o presidente do Governo Regional e o presidente da Câmara do Funchal dos crimes de corrupção activa e passiva, prevaricação, recebimento indevido de vantagem, tráfico de influência, abuso de poder e atentado contra o Estado de direito...
Caiu o Governo Regional e caiu o Governo da República; curiosamente, ou não, ambos chefiados pelo mesmo partido; ambos por suspeitas de irregularidades incompatíveis com o desempenho do cargo que ocupa(vam); ambos vão de novo a votos e querem ser reeleitos...
Nos actos eleitorais que se avizinham, os cidadãos conscientes terão a oportunidade de manifestar a sua vontade, escolhendo para chefiar os destinos do país e da Região aqueles que melhor actuam em defesa das necessidades das populações e não dos seus próprios interesses. Está na altura de expulsar os vendilhões, mas não os substituam por outros que, com desplante, apregoam serem os melhores e mais puros, e, vai-se a ver, roubam malas, conduzem alcoolizados, praticam violência doméstica, estão envolvidos em casos de pedofilia, foram condenados por incitamento ao ódio, difamação e desobediência, falha no pagamento de pensão de alimentos, auxílio à imigração ilegal, não pagamento de dívidas, falsificação de assinaturas, … e ainda agora aqui vamos.
Por estas e muitas outras razões, está mais que demonstrado que a direita (seja ela qual for) não tem resposta concreta nem honesta para resolver os problemas dos cidadãos. Deste modo, só exercendo o democrático direito de voto nos candidatos certos se consegue repor a justiça e a legalidade que deve ser o baluarte de qualquer governação.
É por isso que não me convencem de que os portugueses, e muito menos os madeirenses, estão cansados e não querem eleições. Por muito útil que seja este espaço, na denúncia e na exposição de desvarios e desmandos de muitos “pavões” da nossa terra, só a manifestação da vontade dos eleitores, expressa no voto, é a garantia de que a democracia ainda funciona.
Não exercerem o direito de voto é delegar em terceiros o vosso destino.
Depois, não vale a pena queixarem-se.
Vão votar, e votem bem!
Fernando Letra
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 13 de março de 2025
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