O que deveria ser uma simples ida ao cinema para desfrutar de um bom filme transformou-se num retrato preocupante da decadência do serviço ao cliente na era pós-COVID. No dia 26 de abril de 2025, na sessão das 21h30 no Cineplace Madeira Shopping (explorado pela empresa Orient Cineplace, Lda., NIF 510725660), vivi uma experiência que não posso silenciar.
Mais de quinze minutos à espera na bilheteira para ser atendido, com apenas três casais à frente, enquanto o funcionário exibia uma atitude antipática, desinteressada e de pasmaceira total. Sem pressa para nada... a não ser quando se aproxima a hora de fechar, onde aí sim, a vontade de despachar tudo e todos se torna descaradamente evidente.
O cúmulo da negligência? Indicarem-me a sala errada, fazendo-me perder o início do filme, algo absolutamente inadmissível, sobretudo para quem paga por uma experiência que deveria ser cuidada do primeiro ao último minuto.
Este fenómeno não é um caso isolado. É o espelho de uma postura que se alastra: tratar o atendimento como um frete durante todo o dia, despachando clientes sem o mínimo entusiasmo, e encerrar portas o mais cedo possível como se estivessem a fazer um favor. Um reflexo triste da degradação dos serviços, acelerado pela pandemia, e que ameaça tornar-se a nova norma.
A Cineplace, que opera a nível nacional e movimenta milhões, tem o dever moral de respeitar quem ainda lhes confia o seu tempo e dinheiro. Qualidade no atendimento não é luxo: é obrigação. Vender bilhetes é vender experiências, e são essas experiências que estão a assassinar, cliente a cliente, minuto a minuto.
Isto não é apenas má educação. É um atentado cultural.
Um cinema vazio, dominado pela pressa e pela má vontade, é um cinema condenado à irrelevância.
Fica o registo. Quem cala, consente, e eu recuso-me a consentir.
Antes, a Madeira tinha orgulho nas suas noites de cinema, em momentos que reuniam pessoas e alimentavam a cultura local. Hoje, reina a apatia. Noutras regiões do país ainda resistem à mediocridade; aqui, parece que entregaram a alma sem lutar.
E como se isso não bastasse, aboliram os intervalos.
Durante o dia, as sessões são feitas sem qualquer pausa, numa manobra clara para forçar o consumo nas lojas do centro comercial. O espectador deixa de ser alguém a quem se oferece uma experiência cultural e passa a ser tratado como uma oportunidade ambulante de faturação.
Já nas sessões da noite, abolir o intervalo serve outro propósito: correr o público o mais rapidamente possível, acelerar o encerramento das instalações e minimizar o esforço dos funcionários.
Não é respeito pelo espectador, é pura exploração.
É a traição descarada da essência do cinema como arte e como ritual social.
Se o cinema morreu aqui, não foi por falta de público.
Foi por abandono, desprezo e pressa.
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