O Sargaço está aí de novo e não era comum, está relacionado com as alterações nas correntes oceânicas e os padrões atmosféricos no Atlântico Norte. A Madeira está situada no caminho dessas correntes alteradas, por isso começou a receber as massas de Sargaço que, anteriormente, não alcançavam a ilha.
Para além disso, o aumento da temperatura das águas ao redor da Madeira, associado às mudanças climáticas, criou um ambiente propício para a sobrevivência e acumulação do Sargaço. A combinação da alteração das correntes, aquecimento do mar, explosão do "cintura" de Sargaço no Atlântico e eventos climáticos extremos, fazem com que estas algas, que não conseguiam chegar à Madeira ou não sobreviviam, agora, conseguem com cada vez maior facilidade.
Tenho receio de outras alterações no futuro resultantes desta mistura de mudanças climáticas, a poluição e alteração das correntes marítimas, sobretudo do aquecimento do mar na zona, pois atraí grandes tempestades, para além de favorecer o crescimento mais rápido do Sargaço.
Somos uma ilha pequena, mas temos que fazer a nossa parte no mundo, sobretudo para evitar o aumento da quantidade de nutrientes nos oceanos. O despejo de fertilizantes (naturais ou químicos, arrastados pelas manchas de terra que vemos no mar), esgotos não convenientemente tratados e resíduos agrícolas devem ser evitados. Não temos a "carga" de rios como o Amazónia ou outros na África Ocidental, que levam muito nitrogénio e fósforo para o mar. Esses nutrientes funcionam como "adubo" para o Sargaço crescer descontroladamente, mas estamos num ponto onde tudo conta.
Se "cultivarmos" as condições para o Sargaço ele vai aparece e se manter, só nos faltava pertencer à "cintura" permanente do Sargaço. As alterações no padrão das correntes oceânicas, provocadas pelo aquecimento global ou por fenómenos como o El Niño, transportam essas massas de Sargaço para regiões onde antes não chegavam. A chuva intensa em zonas tropicais aumenta o fluxo de água doce carregada de nutrientes para o oceano, ajudando ainda mais a "explosão de Sargaço". Aqui na Madeira podemos estar a receber os resultados da desflorestação e degradação ambiental na Amazónia, há mais erosão do solo, levando ainda mais nutrientes para o mar através dos rios. Mas também não podemos esquecer dos fertilizantes e poluição dos rios africanos como o Níger e o Congo.
O problema do Sargaço foi notado em 2011, existe uma grande formação de Sargaço que se estende do Golfo do México (da América para os doentes 😁) até à costa africana, é a maior quantidade de Sargaço alguma vez registada. Essa "cintura" cresce todos os anos e já ultrapassa 8.000 km. A Madeira está agora no caminho de algumas destas massas errantes, o que não acontecia antes.
Escrevo este texto porque tenho visto textos dedicados à situação do ambiente em terra na Madeira, mas atenção ao mar! Ele está a dar sinais. As autoridades vão se preocupar porque quando o Sargaço chegar em excesso e apodrecer na costa, liberta gases como sulfeto de hidrogénio que deita um cheiro idêntico ao de ovos podres, é tóxico para a fauna e flora locais, mas o pior é afugentar turistas que vinham em buscar de um lugar idílico. Com tanto hotel e toda a comunidade à beira-mar, o Sargaço vai ser notado se aumenta de quantidade. O Sargaço pode afugentar pesca, espécies comerciais como peixe-espada, atum, etc, e atrapalhar a navegação das embarcações turísticas. Há muita maneira de incomodar
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