Paula Margarido na televisão nacional, quando a realidade não atrapalha a narrativa.


E lá estava ela, Paula Margarido, em pleno horário nobre, com o seu melhor ar de solenidade, como quem carrega nos ombros o peso do mundo, ou pelo menos o da Segurança Social da Madeira, o que, convenhamos, já dava pano para mangas. E eis que surge a oportunidade perfeita para brilhar: a morte do Papa Francisco. Um momento solene, de reflexão e respeito? Não, claro que não. É palco, minha gente! Cenário montado, luzes acesas, e Paulinha pronta para o close-up.

Com uma serenidade que faria inveja ao Dalai Lama (ou talvez ao espelho da sua própria bolha), ela fala, comovida, sobre os ensinamentos do Santo Padre. Fala de compaixão, de verdade, de justiça social. Tudo muito bonito, não fosse a ligeira incoerência, chamemos-lhe um "pequeno detalhe", de ser a mesma pessoa que, com toda a convicção do mundo, já afirmou que "não há pobres na Madeira." Ora, claro que não! A pobreza madeirense é uma miragem, uma invenção de estatísticas mal-intencionadas e relatórios desatualizados do INE. O que se vê por lá são só pessoas a viver uma "humilde opulência," como diria algum poeta pós-moderno.

Mas voltemos ao Papa Francisco, esse senhor incómodo que insistia em dizer coisas como "aqueles que pensam uma coisa e dizem outra são hipócritas." A pontaria do homem era certeira, quase profética! Quem diria que ele, lá do Vaticano, estaria a descrever com tal precisão o momento em que alguém se aproveita da sua morte para fingir empatia e alinhamento com os seus princípios… enquanto, em simultâneo, nega a existência de pobreza numa das regiões mais vulneráveis do país.

Paula, querida, se vai mesmo usar o nome do Papa para enfeitar o discurso, faça o favor de ir aos números, aos nacionais, por favor, que os da Madeira parecem estar a ser recolhidos por um clube de fãs de ficção científica. E já agora, se está com o poder de decidir, como tão orgulhosamente exibe, talvez seja altura de decidir de acordo com os princípios do Papa Francisco. Lembra-se dele? Aquele que falava de justiça social, de cuidar dos mais fracos, de viver com coerência?

Aproveite, Paulinha. Faça diferente. Faça melhor. Honre aquilo que diz defender. E da próxima vez que ligar as câmaras, que pelo menos seja para anunciar medidas concretas, não discursos ocos embrulhados em luto alheio.

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1 Comentários

  1. Pessoalmente acho injustos os comentários que lhe são dirigidos acerca da frase que proferiu.
    É fácil retirar de contexto um pequeno excerto de um discurso.
    O que ela afirmou foi que "a pobreza existente na região é sobretudo uma consequência do álcool de das drogas”. Sobretudo!
    E é verdade. Muita da miséria que vemos não é por falta de emprego ou por incapacidade de trabalhar. Não é por falta de rendimentos. É álcool e drogas.
    Há pobres? Há.
    Mas também há muitos casos que não são situações de "pobreza".

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