Eduardo Jesus acordou? Parabéns! Upgrade!


T inham-me dito que o Madeira Opina era influente, ouve-se zunzuns sobre gente qualificada que não pode falar, mas não estava à espera disto! A 9 de novembro mandei um texto para publicação, "Fartos de turistas e rent-a-cars: soluções" (link), passado um mês vejo Eduardo Jesus com um lampejo de bom senso, sinal que lê!

Chamou-me a atenção na notícia da RTP-M (link), a correlação entre o texto de Madeira Opina (9 de novembro) e o anúncio da Secretaria Regional do Turismo, Ambiente e Cultura da Madeira (10 de dezembro via RTP Madeira) é notável e pode indicar que, pelo menos parcialmente, o “grito de alerta” de um meio de opinião pública teve eco no poder. A Secretaria do Turismo quer melhorar a relação entre residentes e turistas

Acho bem que tenha acordado porque isto já está em "vias de facto", o novo turismo de massas é insolente, goza quando se chama a atenção, faz o que lhe apetece, não respeita, o GR ou atende a quem o elege ou então o seu destino está traçado. Ter carestia no supermercado, na habitação, sentir o abalroamento do turismo nas nossas vidas por todo o lado, inclusive nos afastando da nossa terra até para passear (agora com marcação) não augura nada um bom fim.

As pessoas perderam o respeito pelos turistas, isto não existia no passado

Esta cena de ontem mostrou bem o que se passa:

Eduardo Jesus mostrou ser mais inteligente do que Miguel Albuquerque que geralmente desvaloriza e nega, o que enfurece as pessoas. Ainda hoje, tentei ir à promoção das quartas do KFC e desisti pelo trânsito no Funchal, insuportável, bloqueado. Ou seja, esta tentativa de conciliar os turistas com os locais não sei se chega, os carros continuam a chegar e o que existe ultrapassou, como dizem, "a capacidade de carga" da rede viária. Não vejo solução para isto!

Não esqueçam que o povo é que vota, não os turistas, já nos tiraram demais!


Visto o vídeo eis o que penso!

Parece-me positivo o seguinte:
  • O texto de “Fartos de turistas e rent-a-cars: soluções” denuncia problemas muito concretos: excesso de veículos de aluguer (“rent-a-car”), tráfego caótico, estacionamento desordenado, risco à mobilidade e à qualidade de vida dos residentes. 
  • A notícia da RTP indica que a Secretaria reagiu, anunciou um “programa para melhorar a relação entre residentes e turistas”, com recomendações e políticas de sensibilização.
  • A correspondência temporal (cerca de 1 mês entre a iniciativa de opinião pública e a resposta oficial) sugere que as críticas no “Madeira Opina” podem ter ajudado a impulsionar uma resposta pública. Isso demonstra que a opinião pública/mediática pode exercer papel de vigilância e pressão, o que em democracia é saudável.
  • A proposta oficial, se levada a sério, pode trazer benefícios reais, como reduzir conflitos entre turistas e população local, melhorar segurança rodoviária, tornar o turismo mais sustentável, e restabelecer alguma normalidade de convivência.
O que me parece incerto ou suscita desconfiança:
  • Depois de escrito, uns amigos fizeram a crítica ao texto que gosto sempre de ouvir, disseram que o meu texto não é neutro, é de opinião, com tom forte, emoção e crítica dura ao modelo turístico atual. Nunca quis ser neutro, quis narrar o meu pensamento, o que vejo!
  • Hoje já voltei a falar com eles e dizem que significa que parte da mobilização foi feita mais por indignação do que por dados técnicos, quando a resposta oficial cita “melhorar a relação”, falta saber como, com que medidas concretas, e quando. Acho que tudo está tão exacerbado e concreto que não há dúvidas, mas aceito a crítica.
  • A comunicação da Secretaria pode ser simbólica ou “de fachada”, costuma haver risco de promessas que aliviam as tensões momentaneamente, sem enfrentar estruturalmente o problema, excesso de carros, turismo massificado, falta de alternativas de transporte público. Mas se for mentira e não mitigar o problema não desaparece com retórica!
  • Há um dilema estrutural, segundo dados recentes, o turismo continua a crescer consideravelmente, o número de dormidas e hóspedes subiu, e a pressão sobre a ilha agrava-se.
  • Se não houver reordenamento forte (mobilidade, regulação de rent-a-cars, controlo de fluxo), o problema tende a continuar e a aumentar. Mas é bom ver que o secretário mudou o chip, não aconteceria com a bajulação do DN-M.
  • Também existe o risco de “turismo de retórica”, ou seja, discursos sobre “qualidade e sustentabilidade” combinados com medidas superficiais ou mal aplicadas, sem fiscalização real. 
Tudo isto é uma lição para quem não vota e nada muda, afinal falar de forma fundamentada a par da realidade pode produzir efeitos. O que este episódio revela sobre influência e poder da opinião pública
é que um meio de opinião relativamente informal e independente, como Madeira Opina, pode provocar reação institucional. Isso demonstra que nem tudo está definido, há espaço para pressão cívica, debate público e mudança, especialmente quando a insatisfação dos residentes é clara. Isso é indisfarçável, o turismo está a banir os madeirenses e não vemos retorno.

A situação reforça a ideia de que as soluções para a crise do turismo (mobilidade, convivência, sustentabilidade) podem vir de muito além dos “especialistas” ou do governo, a comunidade local, cidadãos comuns, críticos de blogues ou redes sociais, têm voz e podem influenciar políticas. Coisa fundamentada e não "influencers" tolos. O madeirense tem muito medo de represálias por ter opinião, mas ela é necessária para os governantes perceberem que não somos desprovidos de pensamento.

Agora, se a resposta institucional for apenas simbólica ou de comunicação, a frustração pode aumentar gerando mais descrédito, polarização ou ressentimento entre madeirenses e turistas. É bom que não brinquem à imagem com agências e comunicação social!