É preciso dar uma volta ao jornalismo regional


O jornalismo praticado na Madeira, salvo raras e honrosas exceções, padece de um mal crónico: a promiscuidade entre a informação e o poder. Por atitude de estar em graça, subordinação tácita, partidarite exacerbada, falta de isenção e deontologia, proximidade e dependência do poder, eterna gratidão por favores e cunhas, situações de empregos familiares, rotatividade entre poder e comunicação social, a entidade empregadora, etc, o jornalismo é impossível. Quem ainda é jornalista tenta passar pelos pingos da chuva, mas a habituação a colegas pouco recomendáveis e o seu sucesso faz ceder a fraca carne.

O jornalismo na Madeira, em vez de cumprir o seu dever fundamental de escrutinar, questionar e informar com independência, em muitos órgãos de comunicação locais parecem mais interessados em agradar a elites políticas e económicas do que em servir o interesse público e os leitores. Há edições que se viram páginas e nada é atraente. A linha editorial frequentemente resvala para o panfleto disfarçado de notícia, e a autocensura tornou-se um hábito tão rotineiro. Para compensar, a atitude que deveriam ter com quem tem poder, é aplicada na oposição, esquecendo-se de quem gere a coisa e os dinheiros públicos. É impressionante o palco inclinado para a oposição e como se dão algumas notícias, mas a oposição tudo engole, não há outros para passar a mensagem.

A dependência financeira de fundos públicos e apoios institucionais mina qualquer pretensão de imparcialidade. As redações, empobrecidas em recursos e capital crítico, muitas vezes limitam-se a replicar comunicados oficiais, sem contraditório, investigação ou profundidade. A Madeira é uma mina de casos, ninguém faz investigação, nem mesmo entregues pela Justiça. A pluralidade de vozes, fundamental numa sociedade democrática, é sacrificada em nome de uma suposta estabilidade ou, pior, de conveniências pessoais.

O resultado é um jornalismo acanhado, submisso e, em muitos casos, cúmplice. Hoje em dia, um frete é motivo de orgulho, um passaporte como tantos que saíram do jornalismo para irem para assessores de imprensa no GR. E o mais grave, a população, habituada à ausência de confronto e à normalização da propaganda, acaba por aceitar essa mediocridade como inevitável. Enquanto isso, a liberdade de imprensa na Madeira continua a ser uma nota de rodapé, ou uma manchete cuidadosamente editada. O povo não se importa, basta-lhes pão e circo, muito dele corre pelas peças da comunicação social.

A Madeira precisa de um novo órgão de comunicação social isento e sem dependência de dinheiros públicos, o problema é que isto tem tão mau nome que a situação ainda deve estar pior do que na era do Marques secretário.

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